sexta-feira, janeiro 14, 2005

Portas automáticas

Ontem, na minha ida ao meu café durante a minha pausa do meu estudo, deparei-me com um senhor idoso, nos seus 75 anos, munido de uma bengala enorme, parado em frente a uma banal porta automática. Tendo em conta que nesta mesma porta, diante dos olhos deste mesmo senhor se encontrava uma folha com um texto, fruto filosófico dos donos do centro comercial, os mais distraídos seriam impelidos a pensar: "O cota está a ler o desgraçado do anúncio!". Não foi o meu caso, sendo a minha visão social algo de tão fantástico quanto a tua beleza, pensei: "Foda-se, a puta da porta deveria estar aberta!".

Com esta frase a ecoar na minha mente, aproximei-me da maldita porta e eis que ela se abre, cumprindo o seu propósito de fabrico. Tive o cuidado de permanecer algum tempo no "campo de detecção" do mecanismo que abre a porta, porque depois do senhor me olhar com um sorriso de agradecimento, e de ter a seu alcance todos os seus amigos de idade avançada naquele que deverá ser o seu café preferido, a última coisa que eu quereria fazer era estragar toda a minha boa acção deixando o rapaz idoso cair nas garras da maléfica porta. A questão que levanto é: "Será q vamos continuar a deixar que as portas automáticas façam de nós gato-sapato? Quem serve quem?". Podem acreditar em mim que foi a visão mais triste do meu dia, um senhor de idade parado em frente a uma porta que se deveria ter aberto, ou mesmo que se tenha aberto, deveria permanecer aberta tempo suficiente para que as pessoas mais idosas por ela pudessem passar. Sou forçado a pensar que as portas automáticas são mais uma forma de separar amigos, neste caso, e mais geralmente são uma forma de seleccionar quem entra nos estabelecimentos que possuem este tipo de maquineta e quem fica cá fora, excluído de mais uma zona social e dando mais um passo para junto da completa solidão.

Tendo passado o resto do dia a pensar nisto em cada momento livre que tivesse (e olhem que tenho bastante tempo livre), cheguei a um consenso comigo mesmo e decidi criar uma associação de defesa ao cidadão excluído por engenho de portas automáticas. Chamar-lhe-ei Abre-te Sesamo! Idealizo a nossa sede como um sítio onde tudo abre manualmente, onde valores se elevam mais alto que as tecnologias, onde os amigos não serão separados por portas envidraçadas e onde viveremos todos felizes se formos apoiados por fundos comunitários. Utopias à parte, acabo de me lembrar que não ajudei o senhor a sair do centro-comercial... só espero que haja boa leitura daquele lado da porta...

Joaquim Merendas, 75 anos, reformado: "Merda do puto... não é que me enfiou e fechou cá dentro?!"